quarta-feira, 21 de abril de 2010

(des)Acertos de uma eleição

No momento de azeitarem as máquinas, partidos e dirigentes políticos deslizam nos discursos, atacam sem estratégia a quem passa pela frente mas, principalmente, esquecem que o passado é a grande lição para um novo futuro




A última semana política em Goiás teve de tudo. Tudo mesmo. Das situações mais inusitadas até o óbvio ululante. Este exemplo ficou por conta do senador tucano Marconi Perillo que, via Twitter, “anunciou” oficialmente o que se sabia desde 2006: ele é pré-candidato do PSDB ao Governo do Estado. Em um momento de ressaca das definições acerca das desincompatibilizações, a busca por geração de notícias que ocupem o espaço destinado à política na imprensa goiana é uma tarefa árdua. Mas os dirigentes e quadros políticos de todos os partidos se esforçaram.
Com declarações confusas e, muitas vezes, visando o ataque pelo ataque, sem que haja na afirmação qualquer lastro de estratégia, a comunidade política parece viver agora um hiato de calmaria e intensa atividade interna, na qual os próprios políticos, acostumados com o calor das eleições, não estão acostumados. E então começa o festival de declarações tresloucadas.
Se o melhor aprendizado para a construção do futuro é a observância dos erros cometidos no passado, esta lição, por enquanto, não tem feito grande efeito dentro de grandes partidos e na intelectualidade de grandes nomes da política goiana. A começar pelo PMDB.
Legenda que tradicionalmente reúne as mais diversas tendências e perfis de quadros, em Goiás o partido mantém esta pluralidade e, claro, paga um preço por ela. Depois de sacramentar a pré-candidatura de Iris Rezende ao Governo e por fim a uma crise de “tensão-pré-eleitoral” em todos envolvidos direta ou indiretamente com a política, agora é o momento de organizar a chapa e o próprio partido, preparando as bases lógicas para uma campanha eleitoral.

Isolamento
E foi neste processo, dito mais fácil depois dos dias de nervosismo e apreensão sob o risco de não poder contar com a principal estrela da legenda, que a coisa desandou. A conversa que vaza para a imprensa com recorrência é a de que há uma ala importante e tradicional no PMDB que busca a formação de uma chapa pura, ou seja, com Iris candidato e na vice outro peemedebista.
“Temos um histórico de derrotas por não termos feito alianças”, grita Daniel Vilela, vereador em Goiânia, que traz no DNA tanto a política, quanto o partido. Ele é filho do ex-governador e atual prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. “Interesses pessoais não devem sobrepor aos do PMDB”, é o que garante o deputado estadual Thiago Peixoto. Além deles, outro nome surge considerando a hipótese um absurdo. Francisco Junior, presidente da Câmara Municipal de Goiânia, não quer nem pensar na possibilidade.
As declarações partem com contundência por parte da chamada nova geração do PMDB, que desde cedo aprendeu do jeito mais duro, com a dor da derrota, que política se faz com união de forças e distribuição de louros e tarefas. O isolamento em uma chapa somente em casos urgentes, específicos e isolados. Mesmo assim há quem aja dentro do partido defendendo a idéia de que nomes como o do presidente do partido, Adib Elias, possam ocupar este espaço. E então o PT e os demais partidos que integram a corrente simpática a Iris ficariam chupando o dedo.
No entanto há quem veja a atitude dos velhos caciques do PMDB como uma estratégia clássica e manjada: a da negociação. “Fazem isto para negociar. Todos já aprenderam as lições do passado, mas agora fazem isso para chamar atenção, ganhar mais espaço e, quem sabe, atrair novos aliados”, sentencia um deputado peemedebista que se diz “um pouco descolado da linha irista”, mas mesmo assim um defensor da candidatura com o ex-prefeito à frente.
E, de fato, tanto no meio político como na imprensa, a hipótese de charme de negociação é a mais viável. Isto porque ninguém duvida que os peemedebistas não tenham aprendido com o passado recente. Em 2006, com Maguito Vilela à frente nas pesquisas e a possibilidade clara de aglutinar o PT ainda mais, o grupo do PMDB decidiu negar a vice ao partido que tem a presidência do Brasil e formar uma chapa pura. Com Onaide Santillo na vice, a derrota foi acachapante a começar pelos resultados apurados em Anápolis, terra da ex-deputada.


A candidatura que nasceu de um aborto

Mas não somente no PMDB que a memória para fraca. A suposta ‘memória seletiva’ dos políticos goianos é igualmente manifestada no lado exatamente oposto à legenda de Iris Rezende. No PSDB, os tucanos começam a se organizar na busca por um vice competitivo, e na formação de chapas tentadoras proporcionais e ao Senado.
Mas foi em uma entrevista, no mínimo curiosa, que um dos quadros mais históricos da política de Goiás manifestou-se com claro embaralhamento entre passado e presente. Perto de completar 80 anos, seu aniversário é neste dia 15, o ex-prefeito de Goiânia Nion Albernaz ocupou a imprensa para analisar os diversos cenários. E calhou de atacar a pré-candidatura apoiada pelo governador Alcides Rodrigues, liderada pelo ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso.
Segundo Albernaz, a candidatura o republicano nada mais é que um projeto forjado na cúpula dos partidos, ou seja, não tem apoio das bases nos municípios ou mesmo respaldo popular, ao contrário – é claro – da que ele defende, a do senador Marconi Perillo. “Este projeto foi criado dentro do Palácio, por lideranças de legenda. É uma candidatura de cúpula”, disse, finalizando que por esta característica, o projeto de Vanderlan estaria fadado ao fracasso.

Memórias
Outro golpe de memória que pode ser fatal para uma declaração neste momento político. Se hoje Marconi Perillo é hoje um líder inconteste da política de Goiás, depois de ser reeleito governador, sua origem está longe de ser popular ou de ter tido respaldo intenso das bases dos municípios. Em 1998, quando era um jovem e apagado deputado federal, Perillo conseguiu espaço para ser candidato no projeto do Tempo Novo, depois de ser criado – ou melhor inventado – após uma desistência.
Quem se recorda dos bastidores daquela eleição, afirma que até mesmo o então vice, o hoje governador Alcides Rodrigues, prefeito de Santa Helena, já havia sido escolhido, enquanto somente se esperava uma definição para a cabeça da chapa. E foi Roberto Balestra – que era o nome o principal nome para ocupar este espaço – quem desistiu de última hora de assumir a árdua missão de enfrentar o então todo-poderoso Iris Rezende, que abriu espaço para o jovem Marconi Perillo.

Troca de papéis
Marconi, portanto, além de ser um líder que naquele 1998 foi fabricado entre tucanos e pepistas isolados e recuados em guetos políticos diante da supremacia peemedebista, teve sua candidatura nascida a partir de um aborto projeto montado para servir a Balestra. Perillo foi chamado e conduzido por nomes como Henrique Santillo, que ainda teve resistência de entrar no projeto de início, e Fernando Cunha Junior, que até mesmo topou ir para o sacrifício de uma disputa do Senado para bancar a chapa quixotesta. E deu no que deu.
Mas Albernaz decidiu se esquecer disto, possivelmente de forma estratégica. Tudo porque agora, a comparação dos dois momentos – 1998 e 2010 – são extremamente válidos e semelhantes. A panelinha de 98 pode ser bem configurada pela vontade de Perillo em ocupar pela terceira vez o posto de governador. E quem surge no cenário como o novo, aquele que vem da escuridão do desconhecimento das massas para tentar lutar com o Golias político é justamente Vanderlan Cardoso. Mas, pensar nisto e – pior – revelar este pensamento é perigoso e não interessa ao grupo tucano.
Por fim, a favor de Vanderlan Cardoso está um argumento importante. Se de fato seu projeto nasceu de reuniões de cúpula envolvendo Alcides Rodrigues, Barbosa Neto, Sandro Mabel, Jorcelino Braga e outros caciques de alta linhagem dos partidos políticos de Goiás, Vanderlan conta ainda com o importante respaldo de Abelardo Vaz. O prefeito pepista da acanhada Inhumas nada mais é que presidente da AGM, a Associação Goiana dos Municípios, o que faz com que a pré-candidatura de Vanderlan nasça do sentimento municipalista. Se conseguir efetivar a idéia – e usá-la – de que tem o respaldo dos prefeitos e estes o apoiarem em seus sítios eleitorais, Cardoso terá uma certeza: vai dar muita dor de cabeça para Perillos e Rezendes por aí.

 
Ações de bastidores ‘amolecem
o coração’ de Ronaldo Caiado

Além deste cenário de análises ‘estrategicamente delineadas’, para o PSDB a busca por alianças segue sendo um enorme desafio. E assim, para dar respaldo no tempo de TV e promover capilaridade política para a campanha, o DEM continua sendo o grande prêmio a ser conquistado. E na última semana, a movimentação parece ter surtido efeito.
Se chegar ao presidente da legenda, Ronaldo Caiado, é uma tarefa espinhosa, a tática tucana é convencer as bases democratas. E que elas façam o serviço de amolecimento do ‘coração político’ de Caiado. Assim está sendo feito e assim parece gerar resultados. O deputado, que recentemente foi novamente ríspido com Perillo por conta do episódio Junior Friboi, agora já dá sinais de ponderação.
Frases como: “Precisamos nos unir com partidos e grupos que respeitem o DEM e que sejam afinados com nossa forma de pensar” e “Vou ouvir as bases e tomar uma decisão. Não podemos agir de forma isolada, mas sim consultar a todos”, vindas de Ronaldo Caiado, já representam muita coisa. Um passo para trás para o político que dia destes estava soltando a uma rádio de Anápolis coisas como “Não convivo com estes senhores (Junior e Marconi)”. Já para a legenda, parece ser um passo na direção do ninho tucano. Em se confirmando a possibilidade, Caiado será outro que terá de esquecer o passado e engolir Marconi Perillo de quem já se falou de quase tudo contra.

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