quarta-feira, 24 de março de 2010

O ‘bumba meu boi’ das eleições

Empresário concede entrevista que promete ser o primeiro grande marco deste pleito, causando e gera medo e revolta em tucanos: declarações fortes e categóricas obrigam aos envolvidos no ‘fenômeno friboi’ se manifestarem o quanto antes

 


A entrevista era uma formalidade. Empresário de grande sucesso e uma referência mundial no segmento que atua, José Batista Junior resolveu entrar para o meio político. Terreno árido, onde nem mesmo o gado mais forte, se não for experiente e preparado para aquele chão específico, não prospera, Junior do Friboi, como é conhecido, tem se movimentado há alguns anos entre alguns partidos, feito contatos importantes com políticos e dirigentes e parece que, neste ano, vem com força e disposição para disputar uma vaga. Nem que seja na marra.
Dono de patrimônio incalculável para grande parte da população, o empresário nem mesmo tenta evitar a pecha de que está tentando “comprar” o mandato que escolher. E na mira está uma vaga no Senado ou a vice do PSDB, que tem como pré-candidato Marconi Perillo. Mas eis que no início da semana passada, Junior concede uma entrevista. E então, tudo o que parecia uma suspeita de problema, configurou-se em uma verdadeira tragédia para gregos e tucanos.
Conforme já mostrado em reportagem-análise na página 7 desta edição de O Anápolis, os desdobramentos das declarações de Friboi dentro do DEM não poderiam ser medidos de outra forma a não ser numa escala de hecatombe geral. A revolta de Ronaldo Caiado foi verbalizada por denúncias, xingamentos e promessas de interpelações judiciais.
Com isto, a primeira baixa em decorrência das falas desastradas de José Batista Junior já foi atestada. Porque, além de Ronaldo Caiado, presidente da legenda, o senador Demóstenes Torres ainda entrou na briga. Ele fez duras críticas ao empresário, evidenciando que o poderio econômico dele é o que está seduzindo partidos e quadros políticos a fim de permitirem a sua chegada ao processo eleitoral pela porta da frente e por cima, ou seja, já postulando espaço na senatória ou na chapa do executivo.


Mal no ninho
Mas não foi somente dentro do DEM, com os problemas envolvendo Caiado (veja reportagem na página 7) que a entrevista concedida na última segunda-feira a O Popular gerou incômodo. Até mesmo no PSDB de Marconi Perillo houve um início de preocupação com o incêndio que as declarações podem causar. Afinal, são afirmações categóricas que podem e deverão servir de armas contra os tucanos.
A principal delas é quanto aos acordos entre as partes sobre quem fica no poder e por quanto tempo. A tática do revezamento de mandatos, formando a tão combatida panelinha de 1998, ficou evidenciada pelo empresário que disse ter um acordo com Marconi Perillo para que ele deixe o governo em três anos e três meses de mandato para que ele assuma, vá à reeleição e, depois de 3 anos e três meses, passe o bastão para outro. Nem Nerso da Capitinga, o ingênuo matuto personagem-chave na eleição do Tempo Novo, acreditaria em tamanha inocência de um político em revelar as tramas intimas dos acordos feitos às escuras.
O espanto da repórter responsável pela entrevista é tanto diante da mostra do acerto, que ela insiste ao entrevistado: isto está planejado com Marconi Perillo? Ao que recebe como resposta: eu não entraria se não fosse dessa forma. A subida à superfície de tamanha sandice somente aponta que o caminho de Marconi Perillo e seus aliados está bem traçado, já garantindo a chegada ao poder a sua perpetuação, jogando pela janela a idéia da renovação, do fim das panelas. O que Junior do Friboi mostra é que o grupo marconista não é contra a “panela”, mas sim contra a posição em que se está em relação a ela: se dentro ou fora.


O empresário Junior do Friboi e sua especialidade, os bois: "huuuuuuuuuummmmm"

'Simplesmente' vice
O loteamento do governo também foi abordado por José Batista Junior. O empresário, acertando sua ida à vice, pretende ter pastas estratégicas do governo ligadas a ele somente. “Propus para o Marconi, eu indo para a vice, de criar uma secretaria de relações internacionais e desenvolvimento e que eu possa cuidar dessa parte. (Criar também) algumas secretarias ligadas a mim, alguma coisa bem mais ampla do que simplesmente ser vice”.
Junior ainda reduz ao cargo de segundo homem mais importante no comando do Estado a uma tarefa menor. “Não vou largar meus negócios, não faz sentido nenhum até porque não preciso disso para simplesmente ser vice”. E aponta mais caminhos já combinados “O que tenho combinado com o Marconi e com a base é que não viria para o debate político simplesmente como um vice, sem atuação nenhuma”.


IndecisãoOutra declaração de grande impacto dentro do ninho tucano foi quanto ao apoio a Dilma, uma vez que o seu PTB integra a base de Lula. Dentro da idéia do “nem sim, nem não, muito pelo contrário”, o empresário diz que pretende se manter ausente do debate político em âmbito nacional, mas jamais contra a candidata de Lula à Presidência.
Isto, em um momento de intensificação da polarização entre Serra e Dilma, chega aos ouvidos tucanos como uma ofensa. Como imaginar que um vice de Marconi Perillo pode ser incapaz de criticar ou mesmo de se posicionar em relação a Dilma e o seu embate com o candidato José Serra? A resposta, novamente clara e categórica, causa medo e desconforto nos tucanos e aliados marconistas.
“Quem é candidato a governador é ele [Marconi]. Eu disse para ele que espero que nós façamos uma campanha ética e de propostas. Agora, se ele quiser falar no palanque ou xingar alguém, o problema é dele, não vou compartilhar com isso. Não preciso ir lá. Quem me falou isso foi o presidente do partido, Jovair Arantes”.
Entre a cruz e a espada, no caso entre os ‘investimentos’ em campanha e a tolerância de um neófito dos mais temerosos ao lado, o que escolher?
A fatídica entrevista, que tem tudo para ser o primeiro marco desta campanha quando, no futuro for analisada criticamente, força aos envolvidos diretos ou não ao caso a se posicionarem. Aguarda-se a fala de Marconi Perillo para saber a veracidade do loteamento do governo que nem mesmo foi disputado, quando mais vencido, da intenção e do acerto fechado para a manutenção do poder através da troca de posições. E, ainda, aos tucanos históricos em se manifestar sobre como aceitar um vice que não consegue defender Serra e é incapaz de criticar Dilma.
Por fim, é preciso também ouvir o presidente do PTB no Estado, Jovair Arantes, para ter dele a confirmação de que acertou com o megaempresário este passe livre para que não precise se imiscuir em questões da política nacional.
Observando a entrevista em perspectiva, percebe-se um grande empresário tentando ter um status que ainda não tem: o de estrela da política. Sua intenção, a de usar o poderio financeiro para ‘adquirir’ um mandato não é nova e se mistura com a história da política. A novidade, neste caso, é vê-lo fazer isto com tamanho descaramento e desfaçatez, assumindo uma transparência perigosa e, por vezes, insana para o mundo já fraquejado da política.



segunda-feira, 22 de março de 2010

Celg, o pau de bater em doido

A Celg está quebrada. É um fato, por mais que se tentem manipular dados, versões e explicar acontecimentos de acordo com as próprias conveniências, que a empresa necessita de ajuda urgente diante da sucessão de estragos e rombos feitos ao longo de anos de desmando e abusos, políticos e de outras naturezas, estas já mais obscuras.

Esta realidade é algo que vem sendo construído, bem como as sucessivas revelações dos problemas da estatal goiana que vem tomando a mídia e ganhando o conhecimento e atenção da população goiana. Agora, no entanto, o quadro evoluiu e a empresa estatal de energia tornou-se um calcanhar de Aquiles para diversos grupos políticos.

Além das planilhas e números estrondosos, a Celg entrou, além da pauta financeira e contábil, também para a agenda política de partidos e candidatos. Cada um, da sua forma, quer usar a Celg para defender-se ou atacar o adversário. E veja só que situação curiosa: não estão usando um avanço, mas sim um rombo, como instrumento de guerra. A situação é, no mínimo, tragicômica.

De lado a lado, PMDB e PSDB usam o mesmo instrumento, em contextos diferentes, para trocarem acusações. Um desanca o outro sob a nuvem nebulosa da culpa pela “quebra” financeira e o sucateamento da empresa. Os tucanos usam o argumento batido da venda de Cachoeira Dourada. Os peemedebistas se esquivam do golpe e retomam o discurso mais em voga: os efeitos da gestão dupla de Marconi Perillo em Goiás no processo de definhamento da estatal.

No meio deste ringue está um terceiro elemento que ora é juiz, ora é alvo dos adversários. O governo de Alcides Rodrigues atua como um gestor que tem acesso e visão ampla de toda a documentação que se refere à saúde financeira da empresa e, por isto mesmo, tem autoridade e segurança para bater o martelo e dizer o que ocorreu com as Centrais Elétricas de Goiás, por ocorrência de todos estes anos. Antes com o PMDB no comando e, depois de 1998, com os tucanos cuidando das linhas de transmissão de energia.

Mas engana-se quem pensa que nesta luta, nada justa e muito ausente de regras, o juiz é elemento neutro e soberano. Ao contrário, volta e meia, um dos adversários se preocupa em atacar este juiz. O governo alcidista é invariavelmente golpeado pelos tucanos. Isto porque a Secretaria de Fazenda, sob o comando de Jorcelino Braga, vem evidenciando o grande rombo deixado pelos oito anos do tucanato à frente do Executivo goiano e, em especial, as conseqüências deixadas na saúde da Celg.

Para o deputado federal Rubens Otoni (PT), a intenção de partidos e pré-candidatos em usar a Celg como espada para atacar adversário ou, pior, tentar desancar o governo de Alcides Rodrigues é, no mínimo, uma covardia. Através do espaço democrático e cada vez mais popular do Twitter, o parlamentar petista, ao lado de jornalistas de renome no Estado e outros políticos debateram intensamente esta semana sobre o caso. “Num momento importante de busca de solução para a Celg, tentar encurralar o governo e inviabilizar ações é pensar pequeno”, dispara Otoni. Para o deputado, existe uma vontade política e técnica de todos os envolvidos no governo atual a fim de dar uma solução ao problema. “Trabalha-se mais de dois anos uma solução para um problema deixado por várias administrações. Quando encontra-se a solução um tenta impedir, e o outro tenta se aproveitar do momento para buscar outros interesses”, completa Rubens Otoni, fazendo menção justamente à dupla presente no ringue: PSDB e PMDB.

“Sou testemunha do esforço de todo o governo na busca da solução. Aqueles que quebraram a empresa não querem que alguém a salve”, diz. Otoni é direto e faz referência à dificuldade encontrada na Assembléia Legislativa e até mesmo em setores mais tucanos do governo para se ter acesso a dados e informações precisas acerca da realidade da estatal.

Rubens completa, ainda, afirmando que no meio deste verdadeiro cabo-de-guerra, há quem aprove este tipo de atitude e aplauda o circo formado. “O momento é de, independente de partido político, unir as forças e aproveitar a oportunidade de negociação que foi dada. Porque atrasar isto é não pensar nos interesses do Estado. É não ter preocupação com a solução do problema. É apostar no quanto pior, melhor”, resume.

O “quanto pior, melhor” do momento tem hora e local para acontecer. E pessoas envolvidas, que atuam bem claramente dentro deste, digamos, espírito. Mais recentemente uma bancada do terror está travando a pauta que redefine a empresa estatal e a sua parceria com a Eletrobrás. Segundo Alcides Rodrigues, este é o último passo a ser dado e, por questão de tempo, a Celg – ainda – tem solução. Mas é preciso agir rápido. E, neste caso, agir com celeridade é tudo o que esta bancada não quer.

Ao contrário, temem o surgimento dos primeiros ossos do grande esqueleto escondido no armário da empresa, já que o governo tucano é o franco suspeito de ter promovido um curto-circuito nas contas da empresa. Antes do tucanato, o PMDB regeu o Estado e, claro, por lá também passou. Então, adversários em tudo, agora, se unem com dois objetivos.

O mais proeminente é o de tentar esconder o que for possível neste grande rombo financeiro. E o outro, igualmente arquitetado, é o que não permitir que o governo Alcides fique com a fama de que conseguiu salvar a empresa da falência eminente. Se conseguir isto, o discurso que mantém hoje, de que pegou a maquina estadual quebrada e trabalhou arduamente nos quatro anos para consertá-la, vai começar a fazer enorme sentido. A começar pelo conserto da Celg.

Ainda no terreno democrático e libertário da internet, o espaço é preenchido pela polêmica da Celg e são muitos os comentários acerca da realidade encontrada pelo atual governo como sendo “herança” de outras gestões. Para os mais radicais e interessados na defesa do governo alcidista, a Celg, curiosamente, se torna um elo que aproxima peemedebistas e tucanos. “É importante registrar que o PSDB e o PMDB se uniram contra Goiás e contra a Celg. O que será que os une? O fato de terem arrombado a Celg”?, propõe um dos twitteiros em meio à discussão.

Para o jornalista político Jarbas Rodrigues, especializado no comportamento político goiano e responsável pela coluna política mais influente de Goiás, o Giro, de O Popular, a leitura é clara. “A Celg já serviu de cabo de chicote político por muitos anos e chegou nesta situação de insolvência. Enquanto isto, todo o Estado perde”, afirma. Com informações privilegiadas de fontes de grande representatividade em Goiás, o repórter revela. “Um líder do Fórum Empresarial Goiano me disse que um dos entraves hoje para atrair empresas para Goiás é a falta de garantia de energia”.

De fato, não é preciso ter contato com grandes empresários ou ter acesso a informações confidenciais para saber que a energia elétrica é um dos problemas mais sérios enfrentados pela população em Goiás. A recorrente falta de energia somente reafirma a fragilidade do sistema: basta uma ameaça de chuva para que em diversos pontos do Estado falte energia. Em Anápolis, a situação é recorrente há vários anos.

“O governo quer se cacifar com a Celg/Eletrobrás. Ao PSDB não interessa isto, e o PMDB agora faz beicinho. Pergunta: e nós com isto?”, indaga o jornalista Jarbas Rodrigues. A pergunta, dele e do povo goiano, até o momento, segue sem resposta.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um cão, um técnico e uma jornalista

Petra Ortega tem 12 anos e é neta do jornalista Manoel Vanderic, um veterano da publicidade em Anápolis. Seguindo os passos do avô, ela já atua como uma espécie de jornalista mirim na cidade, escrevendo pequenos textos para um jornal. Em uma destas aventuras foi parar no Centro de Treinamento da Anapolina para entrevistar um atleta do clube. E se deparou com esta cena. E fez como todo jornalista antenado faria: sem pensar duas vezes, clicou. Quem observa o alongamento é o novo técnico da Rubra, Rene Weber, que, atento, cobra mais empenho do atleta para o “exercício”.

Algumas notas... *

Mas como?
Mesmo com a divulgação de que na Casa de shows onde aconteceu a festa marconista só cabem 7 mil pessoas, há aliados tucanos insistindo: apareceram por lá 40 mil.

Campanha
A festa-show, aliás, teve repercussão em todo o Brasil, através da imprensa que ficou abismada com o trato dado pela imprensa goianiense do evento.

Inversão de papéis I
Carlos Leréia, deputado federal, é um dos políticos goianos no Twitter. No entanto, lá ele se comporta como um eleitor: vive de fazer reclamações e queixas, sempre, é claro tendo alvos específicos.

Inversão de papéis II
Como deputado, ao invés de reclamar, não seria a postura mais correta ele agir como um parlamentar e se movimentar para resolver os problemas que o incomodam?

Dúvida
Ronaldo Caiado exaltou decisão do DEM em processar o PT e Dilma por propaganda extemporânea. O deputado democrata fará o mesmo no caso da festa-showmício de Marconi? Ou por aqui pode?

Carinho
Do deputado estadual Humberto Aidar: “Lula já me disse que gosta muito de Alcides, e consta que está ajudando o andamento de muitas obras em Goiás”

Confiante
Ainda ele “Se Iris desistir, Rubens Otoni representa o melhor nome na aliança PT e PMDB, para enfrentar e vencer as eleições”.

Guerras anapolinas I
Não chamem para a mesma mesa o ex-vereador Maxlânio Jaime e o ex-prefeito Adhemar Santillo. De volta ao PMDB, quando questionado sobre sua relação com o presidente da legenda, o médico não titubeia: “É a pior possível”.

Guerras anapolinas II
Segundo Maxlânio, se Adhemar insistir em participar das eleições, ele irá ao prefeito Iris Rezende pedir que se montem dois diretórios já que, segundo ele, não a clima para tolerar a presença de Adhemar.

Guerras anapolinas III
Além dele, pelo menos mais dois no PMDB já externaram esta opinião. Justamente os dois com mandato, os vereadores Weslei Silva e Assef Nabem.





* também publicadas no jornal www.oanapolis.com.br

Guerra dos plásticos

A guerra eleitoral em Goiás já começou faz tempo. São nas rodas de conversa, nos sites de mídias sociais, como twitter, Orkut, facebook e outros. E, é claro, principalmente nas ruas. Mesmo com as sanções da lei eleitoral, a imaginação consegue driblar as limitações e o que se começa a ver é uma verdadeira batalha campal em adesivos e recados nos carros. O mais recente deles aconteceu com a mensagem “Volta”. Escrita em azul com fundo amarelo, a palavra é ornada com um enorme tucano, símbolo do PSDB e insinua, claramente, o desejo do proprietário do carro de que o PSDB volte ao poder, no caso, com Marconi Perillo. Não demorou um mês para que novos adesivos surgissem, desta vez em resposta ao “volta.”. É o “Devolve”, com o desenho abaixo. Agora é esperar e saber qual vai ser o próprio passo nesta batalha velada. Uma coisa é certa. Se o ritmo já está assim, nem dá para imaginar o que vai acontecer quando a disputa for às ruas.


Serra ‘inaugura’ maquete de ponte e vira piada nacional

Uma ponte com arquitetura moderna e por avantajado, daquelas de se tornar cartão postal quando, à noite, estiver toda iluminada. Uma referência mundial em arquitetura e engenharia no valor acima dos R$ 700 milhões. A construção, além de mudar a silhueta de uma cidade, também impacta diretamente na vida de quem mora aos seus arredores, afinal, ela liga a cidade de Santos ao Guarujá onde, hoje, este trajeto só pode ser feito por meio de balsa.
Enfim, uma perfeição, exceto por um detalhe: a ponte simplesmente não existe. Ela não passa de um sonho do governador de São Paulo, José Serra, que na última semana fez a sua “inauguração”. Muito mais aceitável seria, portanto, a inauguração da pedra fundamental, o chamado “início das obras”, através da assinatura da ordem de serviço para a edificação do projeto. Mas no caso em questão nem sequer existe licitação realizada para saber quem fará ou quando será iniciada a obra. A inauguração foi, efetiva e delirantemente, uma invenção do governo Serra.
O factóide da engenharia do governo de São Paulo mostra bem mais do que uma situação inusitada ou mesmo um afã para mostrar à população a intenção de realizar no Estado. Ao fazer um evento e mostrar uma ponte de mentirinha, de brinquedo, o governador tucano busca espaço político na mídia, tentando evidenciar a sua postura empreendedora. Quer mostrar ao Brasil o que está fazendo em São Paulo, como se dissesse “é isto que pretendo fazer ao país”. A obra em questão, usada para externar sua competência e arrojo administrativo, somente será inaugurada, se tudo correr bem, no próximo governo de São Paulo.

Repercussão
Imediatamente ao evento, já nas primeiras informações sobre a agenda do governador, a reação por parte da imprensa e pela crônica política nacional foi da incredulidade à piada. Alguns, céticos, questionaram sobre o início das obras ou mesmo sobre o planejamento, já amarrado a algum cronograma, para a execução do projeto. Mas logo depois este grupo se juntou àquele que de cara tinha percebido a manobra para ganhar holofotes e tudo virou motivo para troça. O evento político de José Serra virou fonte de humor.
Um dos principais jornalistas políticos do Brasil, Josias de Souza da Folha de S. Paulo, não resistiu. Especialista em bastidores, Souza bateu o martelo: Serra só pode ser candidato, uma vez que só um candidato seria “capaz de render-se assim ao burlesco”.
“O governador “inaugurou”, veja você, a maquete de uma ponte. E nem ficou vermelho. Uma tenda protegeu-o do Sol. Não, você não leu errado. É isso mesmo. Serra visitou o local onde será erigida uma obra que ainda nem foi licitada”, escreveu Josias de Souza em seu blog, um dos mais acessados do Brasil.
E prosseguiu: “Flertando com o ridículo, Serra discorreu sobre a obra que, depois de licitada, consumirá 30 meses e R$ 700 milhões da próxima gestão: ‘Com esta ponte (?!?!?!) nós vamos quebrar um gargalo que é muito importante aqui na região da Baixada Santista...’”. Resumindo: Serra alimentou o cenário com humor que nem mesmo os sites especializados do ramo conseguiram fazer.



 Estratégia
A posição de José Serra, pressionado por membros do PSDB a assumir rapidamente sua candidatura à Presidência, é uma só: rivalizar com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Dilma já foi escolhida pelo PT como pré-candidata à sucessão de Lula e tem, naturalmente, os holofotes garantidos. Testando sua capacidade de abiscoitar atenção, o governador paulista promoveu este “evento”, que também serviria para sondar a sua popularidade.
O momento que Serra atravessa não é dos mais confortáveis. Por um lado, há a serena caminhada para a reeleição em São Paulo, no entanto o tucano sofre com a enorme pressão exercida por grandes nomes de dentro de seu partido que o querem arriscando o certo pelo duvidoso: a disputa pelo Planalto. E em nome disto, e da demora em aceitar oficialmente o desafio, o governador paulista vem recebendo recados velados ou escancarados de aliados. Em meio a este temporal de opiniões e apertos, Serra decidiu buscar atenção e holofotes na imprensa nacional. Deu no que deu.


“Tem gente inaugurando até
maquete”, cutuca Lula em São Paulo

Enquanto isto, na também terra da garoa, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da ministra Dilma Roussef, realizou uma inauguração. Mas, desta vez, de algo, por assim dizer, mais sólido: uma usina termelétrica em Cubatão. Durante seu discurso também não resistiu e, a exemplo da imprensa nacional, também fez uma referência ao inusitado ato tucano.
"Tem gente inaugurando até maquete e nós queremos mostrar como é que as coisas acontecem neste país", afirmou o presidente em seu discurso. Pouco antes, ele citou dados de criação de empregos em seu governo e disse que repetiria os números porque, segundo ele, é preciso fazer isso em ano de eleições.
"Eu, quando comecei minha vida política, dizia que o político mentiroso fala assim: Eu mato a cobra e mostro o pau. Ora, o fato de você mostrar o pau não significa que você matou a cobra. Então, nós adotávamos o discurso de que um político verdadeiro mata a cobra e mostra a cobra morta", disse o presidente Lula.


Apagão
Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, lembraram, em seus discursos, o apagão ocorrido no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Segundo Dilma, a obra inaugurada na última quarta-feira é parte de um objetivo para que o país "possa crescer sem ter gargalos como aqueles entre 2001 e 2002, quando o Brasil não tinha como abrir nem fábricas e nem shoppings (...) durante muitos anos o Brasil parou de investir, de construir. Quando você para de fazer, você desaprende", disse a ministra.
Ela afirmou ainda que o governo Lula "tornou a colocar o Brasil nos eixos" e que o país "não vai mais voltar a ser um país estagnado, sem emprego". Em outro trecho do discurso, o presidente disse que a inauguração da termelétrica era uma mensagem para o mundo de que é seguro investir no país porque, segundo ele, há garantia de que não haverá outro apagão.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Lições marconistas, n°1: o que se pode, nem sempre se deve


Uma das regras mais fundamentais da etiqueta (chamada por ser a pequena ética social, bem entendido) prega a seguinte máxima: “há coisas que você pode, mas não deve”. Entre os fatos absolutos do que é devido ou impróprio, existe um espaço vazio no qual não existem soluções matemáticas do que é certo e errado. O que manda, portanto, nestes momentos, é o bom senso. O bom senso para observar a situação em si, as implicações, os envolvidos e, por fim, os desdobramentos após a tomada de tal atitude.
E aí entra, muitas vezes, o “pode, mas não deve”.
Na última sexta-feira, 5, o senador tucano Marconi Perillo realizou uma festa pela ocorrência do seu 47º aniversário. Escolheu uma casa de shows de Aparecida de Goiânia em que a capacidade, segundo os administradores do local, é de sete mil pessoas. Mais a área externa, estima-se espaço para mais 2 mil pessoas. No dia seguinte, os jornais e os aliados tucanos alardearam que o petit comitê reuniu mais de 40 mil pessoas que, segundo jornais diários, gritaram pela volta de Marconi ao governo.
O secretário do Estado de São Paulo e ex-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin, veio ao evento em nome de Serra e, em seu discurso, alegou que todos querem Marconi de volta ainda no primeiro turno das eleições. Um verdadeiro comício regado a cerveja, refrigerante e comida grátis. O evento aconteceu em uma tarde, entrou pela noite com shows de 12 duplas e, ainda, o grande encerramento com Zezé diCamargo e Luciano.
A partir do dia seguinte, a notícia correu o Brasil. Foram blogs, noticiários eletrônicos, jornais impressos, articulistas, colunistas de todo o país que usaram a “festa de aniversário” como exemplo para propaganda extemporânea, comício pré-eleitoral e acachapante aparelhamento da imprensa goiana em repercutir o acontecimento como uma festa cujo povo estava lá ideologicamente conectado, em um evento pró-Goiás pela volta de Marconi ao poder. Mais um pouco e nem eleição precisava. A começar pela manipulação deslavada dos números, tudo ali foi tratado como uma ocorrência de uma passagem bíblica.
No entanto, nem foi isto o que mais chamou a atenção da imprensa nacional e dos articulistas mais independentes do poderio tucano, construído com dinheiro ou medo – à escolha do alvo – durante a festa. Em determinado momento, um vídeo foi projetado para o aniversariante e para toda a platéia presente. Nele, a figura da filha mais velha do senador, cerca de 18 anos, que mora, desde setembro de 2008 na cidade de Lugano, na Suíça italiana. De lá, impossibilitada de estar aqui em Goiás para celebrar a festa com o pai, a jovem externou o sentimento de amor pelo pai e o citou como um homem generoso.
O adjetivo foi tema para uma nota do jornalista Claudio Humberto que acrescentou outro elogio. “Generoso e fazedor de milagres, com o salário que ganha no Senado”. E de fato o que sobrou desta aparição familiar foi justamente esta dúvida. Porque a solução para este dilema pode vir a resolver problemas de equação na renda familiar de muitos brasileiros. E até mesmo mudar o perfil de consumo, e a qualidade da educação das próximas gerações: como Marconi Perillo, profissão: senador da República, consegue manter sua filha na Suíça italiana?
De acordo com informações do Google, e de notícias em geral, o salário de um senador de República gira em torno dos R$ 13 mil. Eles possuem benefícios curiosos como o 14º e o 15º salários, o que pode elevar este valor. Além do salário mensal e dos três salários extras – não despreze o 13º – cada senador recebe R$ 2.750 para auxílio moradia ou residência oficial, R$ 15 mil por mês para gastos no escritório do Estado de origem e até 80 mil por mês para contratar funcionários comissionados. Tudo dentro da lei. Mas, de salário, o soldo mensal para cumprir seu mandato, é algo em torno de R$ 13 mil.
Estima-se que um colégio de bom porte na Suíça custe algo em torno de 30 mil dólares. Dos americanos. O que, em moeda corrente, sai por R$ 60 mil. São R$ 10 mil mensais para pagar, somente de escola. Não é possível estimar com a moradia e alimentação. Ou pode-se fazer ainda melhor: a escola pode fornecer ambos. Ainda assim, a estimativa de quem já lançou mais deste artifício de custear a educação de um pimpolho na Europa sempre remete a um custo não inferior a R$ 20 mil mensais.
Marconi Perillo foi governador de Goiás por oito anos, é senador e, antes de tudo isto, foi assessor de Henrique Santillo, deputado estadual em 1990 e, quatro anos depois, alçado à Câmara Federal em 1994. Esta é a vida profissional de Perillo, um homem dedicado, desde a sua tenra juventude, à política e seus mais diversos movimentos. Foi do PMDB, passou pelo Partido Popular, e chegou ao ninho tucano em 1995. A profissão de Marconi Perillo é ser político, é o que aponta o seu site (www.marconiperillo.net).
Ainda dentro de sua página eletrônica, sua biografia aponta que “cursou o ensino fundamental em Palmeiras de Goiás e o segundo grau em Goiânia. Desenvolveu atividades acadêmicas nas áreas de Ciências Sociais, Engenharia Industrial, Engenharia Civil e atualmente cursa Direito na Faculdade Alves Farias em Goiânia – Goiás”. Há um curioso eufemismo no termo usado em sua descrição. “Desenvolveu atividades acadêmicas...” este é, no linguajar comum o mesmo que dizer que iniciou os cursos de...  e não terminou. Hoje, Perillo faz uma espécie de curso não-presencial de Direito na Alfa. Está realizando a sua monografia.
Todo este levante acadêmico e profissional serve para mostrar que Marconi Perillo não tem outra profissão. É de conhecimento geral qualquer outra atividade, intelectual, profissional ou empresarial do senador, além da política. Marconi é um político profissional e sobre isto não recai sobre ele qualquer constrangimento ou dúvida. É um caminho a se escolher como qualquer outro e políticos que se dedicam à política devem, sim, orgulhar-se da profissão escolhida. No entanto, seu sucesso depende de que a população também se orgulhe dele.
O fato é que, como político, Marconi ganha o que todos os senadores ganham. E sem atividades extras divulgadas pela imprensa ou em seus próprio site, fonte de informações, a dúvida que permanece é: como Marconi paga pela manutenção da filha na Suíça?
Haveria uma bolsa de estudos, podem correr os aliados a explicar. Se o fizerem, haverão de mostrar a todos o documento que permite tal benefício à jovem que está sendo educada em, no mínimo, três idiomas. E certamente todos em Goiás sabem o quanto é fácil e acessível a todos ter uma bolsa de estudos para jovens de talento na Europa. Afinal, quem de vocês, leitores, não tem alguém na família, na própria rua, ou no prédio onde mora que não estuda na Suíça, na Suécia, na Holanda, com tudo pago por alguma ONG ou pelo governo local?
É o primeiro encaixe da etiqueta política: se ele pode, não deve.
Acontece, mais ainda, que o hoje senador e pré-candidato às eleições de outubro, foi governador do Estado de Goiás por oito anos, de 1998 a 2006. Uma das grandes marcas de sua gestão, alardeada fortemente pelos seus aliados, é a criação de uma universidade legitimamente goiana. A Universidade Estadual de Goiás é defendida pelos marconistas como a menina dos olhos do senador. Um marco na educação.
Mas para que serve a UEG? Para jovens carentes, menos dotados, sem grandes chances e opções, ou oportunidades para ingressarem nos estudos de pompa européia? Perillo desdenha de suas próprias criações e demonstra o quanto, para ele pelo menos, a Educação no Estado é carente, desprovida de atenção e, sobretudo, qualidade. Até mesmo os melhores cursos e estudos, curriculares ou não, à disposição no Brasil estão aquém das expectativas do senador tucano.
Sabendo desta notícia, o eleitor que estuda na UEG, ou que tem os filhos por lá matriculados, e que volta e meia sofrem com a falta de estrutura mais básica, deverá refletir sobre os avanços no ensino provocados pelo Tempo Novo de Marconi Perillo. O senador avançou tanto que foi parar com seus pensamentos e anseios na charmosa Lugano, o recanto da Suíça italiana.
Como cidadão, se Marconi pode elevar à família tal condição nobre e invejada por todos, tudo bem. Mas como político defensor da competitividade do Estado, e na posição de suposto artífice deste avanço rumo à qualidade na Educação e no reconhecimento de Goiás como um Estado de ponta e não uma sub-região em relação ao resto do país, a etiqueta ensina ao senador: poder, até pode... mas não deve.

domingo, 7 de março de 2010

Braços do tamanho dos sonhos

Por volta do meio dia já quase não há movimento na entrada do Restaurante Popular, no centro de Anápolis. As pessoas, por medo de que a comida acabe – que as oportunidades acabem antes delas chegarem – mudam seus horários de almoço e se alimentam cada vez mais cedo. Todos, sem se perguntar porque fazem isto, simplesmente fazem. Quinze minutos depois do meio dia praticamente já acabou tudo.
Coisas que acabam.
O sol é tipicamente um sol de meio-dia. Arde no ar, parado. Arde o ar. Eu, ar-condicionado forte no carro, vou passando e observando coisas e pessoas. Um menino com roupas cansadas e cheio de disposição no olhar caminha rapidamente pelas calçadas. Um menino preto, que ensaia correr pelo estreito chão daquela rua e traz em cada uma de suas mãos um pedaço de isopor. Ele balança os braços com força e vontade, como se imitasse o movimento de um pássaro. Um pássaro preto e animado pelo sol do meio dia. Ele quer voar. O menino pensa que é um pássaro.
Pessoas que sonham.
Vejo aquele menino querendo voar como um Icaro, sob o sol do meio dia, justamente no dia em que Barack Obama faz 48 anos. Divago e penso que Obama completará meio século de vida à frente da presidência da nação mais importante, mais temida, imitada, admirada, criticada e observada do mundo. O mundo não seria o mundo se não fossem os Estados Unidos. Quais sonhos não alimentam os 48, 50 anos de Barack Obama e qual reflexão não cabe a ele, preto e havaiano, neto de quenianos, e hoje o homem mais importante da humanidade?
A relação que há entre o menino de asas de isopor e o homem mais importante do mundo é transparente. Quem, em sã consciência, vai dizer àquele menino que ele não pode voar? Porque ele pode. Ele só precisa querer e, acima de tudo, acreditar que ele pode. Mesmo ele sendo ainda um menino, pobre, negro e suas asas serem feitas, por enquanto, a partir de dois pedaços retalhados de isopor.
Sonhos que as pessoas têm.
Em geral, temos idéias prontas sobre o tempo e as oportunidades. De acordo com cada situação, molda-se uma opinião de forma que ela encaixe com perfeição no quando-momento que se quer provar alguma tese. Costuma-se dizer, por exemplo, que a vida de hoje é diferente da forma de viver de outros tempos. Talvez uma geração acima, ou seja, coisa de 30, 40 anos antes. Por outro lado, sempre há quem diga que hoje viver é mais fácil, porque os tempos são outros, mais modernos e modificados por certas liberdades e costumes.
O fato é que para tudo se tem uma teoria, mesmo que uma confronte a outra. Há uma expressão muito usada na Psicologia que é o ato de “desconfirmar”. É uma licença poética para dizer que as pessoas se desconstroem. E as teses sobre a vida são assim: uma desconstruindo a outra.
O que torna verdadeiro em tudo isto é que não há regra alguma para descobrir como se deve viver a vida. Talvez o maior susto que todos nós um dia podemos tomar é descobrir que não existe mistério algum. Que a fé inabalável em uma doutrina de vida, ou de morte, é simplesmente a força que nós temos em apostar em alguma coisa, e não propriamente uma lei cujo não cumprimento nos levará à punição ou ao caminho errado para viver. Só pode haver errado, se existir o certo. E quem poderá dizer o que é certo com eficaz comprovação?

Aquele menino, que me prendeu a atenção enquanto o trânsito me prendia à rua, ao carro, àquele instante, me levou para lugares onde nem eu, e nem ele, poderíamos imaginar que existissem. A reflexão sobre sua vida levou a uma reflexão sobre a minha e, desta, para a vida de todo mundo. Porque a grande verdade que me salta aos olhos ao vê-lo, é que a vida não é construída a partir das oportunidades que nos surgem, mas sim das oportunidades que nós criamos. A existência não começa de fora para dentro, mas ao contrário: ela é concebida a partir de nós. O mundo nos é o que nós queremos que ele nos seja.
Veja Obama, veja o menino que quer voar. São pessoas diferentes e ao mesmo tempo em que são as mesmas pessoas. Afinal, quem ousar dizer que não, que algo é impossível para aquele garoto está fechando as portas contra si mesmo. Porque as possibilidades do mundo, diariamente, se abrem. E são as nossas crenças e teorias pessoais que nos podam de crer no infinito de impossibilidades que estão prontas para acontecer, desde que estejamos serenos dentro da certeza de que elas podem nos chegar.
Afinal, somos nós quem precisamos estar prontos para os acontecimentos já que estes, por natureza e definição, estão se desdobrando e tornando-se reais. E em sendo assim, somos nós quem fechamos as nossas portas na medida em que não nos sentimos capazes para abri-las à nossa frente. Nossos braços são do tamanho de nossos sonhos. Tudo está ao alcance das nossas mãos, basta que estiquemos com o pensamento de que vamos segurar com firmeza o que é almejado.
Pergunte-se por onde andam seus sonhos e onde você resolveu deixar a sua vontade mais sincera de voar, ainda que com asas de isopor. O tempo nos ajuda com experiência, mas nos mina a esperança e vai corroendo todas as ilusões que são fundamentais para o sucesso. Há gente pelo mundo conseguindo fazer o impossível simplesmente por não saber que, aquilo, impossível era. Portanto, usemos o tempo ao nosso favor já que é inexorável a sua ação. Sejamos reféns de nossos sonhos a partir de um único princípio: todos eles são reais e exeqüíveis, desde que acordemos acreditando em cada um deles. E, ao dormir, que sejamos embalados na única certeza indelével: amanhã, ao acordar, tudo pode acontecer.
Vejo gente se cansando da vida por muito pouco. A impressão que fica é que o valor que dão à vida é algo super dimensionado. Encaram a vida como uma tarefa tão grande e tão pesada que sentem medo de carregá-la. A vida é, sim, uma experiência, que pode ser uma aventura num clichê, mas que é, de fato, algo a ser experimentado, experienciado. Para tanto, ter coragem é imprescindível. E a coragem é não perder o vigor nas crenças e sonhos que temos quando achamos ser possível voar com isopores ou nos tornarmos astronautas, presidentes. Pense que de todos os meninos que sonham ser presidente, alguns deles realmente conseguem. Por que não você?
O que mais falta em nossos sonhos é dar a eles o combustível que eles mais precisam: a crença do possível.
Eu volto à realidade amarela do sol forte de agosto com a insistente buzina do veículo que, atrás de mim, tem pressa para seguir seu caminho. É ele quem me acorda daqueles pensamentos vendo aquele menino. Enquanto isto, percebo que o pequeno Ícaro negro corre à frente de seus pais e irmãos para chegar primeiro ao restaurante, quase vazio de gente e de alimento. Deve mesmo ser difícil alimentar sonhos quando se falta com o que se alimentar a barriga.
Coisas que acabam.
Coisas que sonhamos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Entrevista de Iris mexe com o cenário goiano


Bastaram algumas palavras. Nada demais. Em uma única frase o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, criou um alvoroço dentro do PMDB e nos demais partidos que acompanham, é claro, de perto as negociações para a formação das chapas majoritárias ao governo. A entrevista concedida à Rádio Mil FM, de Goiânia, teve uma repercussão bem além do que se poderia imaginar.
“A minha dificuldade hoje, em afirmar ser o candidato, é a necessidade da renúncia na Prefeitura, acho uma incoerência da lei. O povo me elegeu pra ser Prefeito, então é uma decisão difícil de ser tomada, mas, em contrapartida, como Governador posso talvez ajudar Goiânia muito mais”.
Pronto. Com isto, a manhã foi terrível no Twitter, o ponto de encontro mais novo e já o mais tradicional da roda política mais descolada, aquela que já acessa as redes sociais. De um lado alguns peemedebistas levantam hipóteses e celebravam o que consideravam o recuo do prefeito. Até mesmo o outro lado do partido, formado por iristas, ficou também de orelha em pé.
Entre os jornalistas presentes e atuantes na discussão, cada uma ao seu jeito e de acorco com a crença em suas teses, o que não faltou foi tradutor, intérprete e tudo mais para decifrar o que queria dizer Iris.
Até mesmo o deputado federal petista Rubens Otoni se sentiu motivado a comentar a entrevista e, diante da grande repercussão, também se posicionou. “Estamos centrados na pré-candidatura de Iris Rezende, mas caso haja outra orientação, estou pronto para assumir esta missão e aglutinar forças nos partidos da base do governo Lula”. Pronto, era o que faltava para a teoria virar algo mais, se tornar um correntes de pensamento viável.
Para o prefeito de Anápolis, Antonio Gomide, o caso está sacramentado e Iris Rezende deverá ser confirmado candidato. Nada de novo, apenas uma entrevista na qual o prefeito, falando aos eleitores de sua cidade, foi polido e cauteloso em suas afirmações. Faz sentido, até mesmo pelo elogios estratégicos feitos ao seu vice, em um indicativo de que a cidade estará entregue a boas mãos petistas.
Pode não ser nada, mas pode ser alguma coisa. O fato é que em tempos como este, arriscar uma tese e se fechar nela é, no mínimo, inocência demais. E a política, como se sabe, até admite novatos, mas nunca incautos inocentes.