segunda-feira, 22 de março de 2010

Celg, o pau de bater em doido

A Celg está quebrada. É um fato, por mais que se tentem manipular dados, versões e explicar acontecimentos de acordo com as próprias conveniências, que a empresa necessita de ajuda urgente diante da sucessão de estragos e rombos feitos ao longo de anos de desmando e abusos, políticos e de outras naturezas, estas já mais obscuras.

Esta realidade é algo que vem sendo construído, bem como as sucessivas revelações dos problemas da estatal goiana que vem tomando a mídia e ganhando o conhecimento e atenção da população goiana. Agora, no entanto, o quadro evoluiu e a empresa estatal de energia tornou-se um calcanhar de Aquiles para diversos grupos políticos.

Além das planilhas e números estrondosos, a Celg entrou, além da pauta financeira e contábil, também para a agenda política de partidos e candidatos. Cada um, da sua forma, quer usar a Celg para defender-se ou atacar o adversário. E veja só que situação curiosa: não estão usando um avanço, mas sim um rombo, como instrumento de guerra. A situação é, no mínimo, tragicômica.

De lado a lado, PMDB e PSDB usam o mesmo instrumento, em contextos diferentes, para trocarem acusações. Um desanca o outro sob a nuvem nebulosa da culpa pela “quebra” financeira e o sucateamento da empresa. Os tucanos usam o argumento batido da venda de Cachoeira Dourada. Os peemedebistas se esquivam do golpe e retomam o discurso mais em voga: os efeitos da gestão dupla de Marconi Perillo em Goiás no processo de definhamento da estatal.

No meio deste ringue está um terceiro elemento que ora é juiz, ora é alvo dos adversários. O governo de Alcides Rodrigues atua como um gestor que tem acesso e visão ampla de toda a documentação que se refere à saúde financeira da empresa e, por isto mesmo, tem autoridade e segurança para bater o martelo e dizer o que ocorreu com as Centrais Elétricas de Goiás, por ocorrência de todos estes anos. Antes com o PMDB no comando e, depois de 1998, com os tucanos cuidando das linhas de transmissão de energia.

Mas engana-se quem pensa que nesta luta, nada justa e muito ausente de regras, o juiz é elemento neutro e soberano. Ao contrário, volta e meia, um dos adversários se preocupa em atacar este juiz. O governo alcidista é invariavelmente golpeado pelos tucanos. Isto porque a Secretaria de Fazenda, sob o comando de Jorcelino Braga, vem evidenciando o grande rombo deixado pelos oito anos do tucanato à frente do Executivo goiano e, em especial, as conseqüências deixadas na saúde da Celg.

Para o deputado federal Rubens Otoni (PT), a intenção de partidos e pré-candidatos em usar a Celg como espada para atacar adversário ou, pior, tentar desancar o governo de Alcides Rodrigues é, no mínimo, uma covardia. Através do espaço democrático e cada vez mais popular do Twitter, o parlamentar petista, ao lado de jornalistas de renome no Estado e outros políticos debateram intensamente esta semana sobre o caso. “Num momento importante de busca de solução para a Celg, tentar encurralar o governo e inviabilizar ações é pensar pequeno”, dispara Otoni. Para o deputado, existe uma vontade política e técnica de todos os envolvidos no governo atual a fim de dar uma solução ao problema. “Trabalha-se mais de dois anos uma solução para um problema deixado por várias administrações. Quando encontra-se a solução um tenta impedir, e o outro tenta se aproveitar do momento para buscar outros interesses”, completa Rubens Otoni, fazendo menção justamente à dupla presente no ringue: PSDB e PMDB.

“Sou testemunha do esforço de todo o governo na busca da solução. Aqueles que quebraram a empresa não querem que alguém a salve”, diz. Otoni é direto e faz referência à dificuldade encontrada na Assembléia Legislativa e até mesmo em setores mais tucanos do governo para se ter acesso a dados e informações precisas acerca da realidade da estatal.

Rubens completa, ainda, afirmando que no meio deste verdadeiro cabo-de-guerra, há quem aprove este tipo de atitude e aplauda o circo formado. “O momento é de, independente de partido político, unir as forças e aproveitar a oportunidade de negociação que foi dada. Porque atrasar isto é não pensar nos interesses do Estado. É não ter preocupação com a solução do problema. É apostar no quanto pior, melhor”, resume.

O “quanto pior, melhor” do momento tem hora e local para acontecer. E pessoas envolvidas, que atuam bem claramente dentro deste, digamos, espírito. Mais recentemente uma bancada do terror está travando a pauta que redefine a empresa estatal e a sua parceria com a Eletrobrás. Segundo Alcides Rodrigues, este é o último passo a ser dado e, por questão de tempo, a Celg – ainda – tem solução. Mas é preciso agir rápido. E, neste caso, agir com celeridade é tudo o que esta bancada não quer.

Ao contrário, temem o surgimento dos primeiros ossos do grande esqueleto escondido no armário da empresa, já que o governo tucano é o franco suspeito de ter promovido um curto-circuito nas contas da empresa. Antes do tucanato, o PMDB regeu o Estado e, claro, por lá também passou. Então, adversários em tudo, agora, se unem com dois objetivos.

O mais proeminente é o de tentar esconder o que for possível neste grande rombo financeiro. E o outro, igualmente arquitetado, é o que não permitir que o governo Alcides fique com a fama de que conseguiu salvar a empresa da falência eminente. Se conseguir isto, o discurso que mantém hoje, de que pegou a maquina estadual quebrada e trabalhou arduamente nos quatro anos para consertá-la, vai começar a fazer enorme sentido. A começar pelo conserto da Celg.

Ainda no terreno democrático e libertário da internet, o espaço é preenchido pela polêmica da Celg e são muitos os comentários acerca da realidade encontrada pelo atual governo como sendo “herança” de outras gestões. Para os mais radicais e interessados na defesa do governo alcidista, a Celg, curiosamente, se torna um elo que aproxima peemedebistas e tucanos. “É importante registrar que o PSDB e o PMDB se uniram contra Goiás e contra a Celg. O que será que os une? O fato de terem arrombado a Celg”?, propõe um dos twitteiros em meio à discussão.

Para o jornalista político Jarbas Rodrigues, especializado no comportamento político goiano e responsável pela coluna política mais influente de Goiás, o Giro, de O Popular, a leitura é clara. “A Celg já serviu de cabo de chicote político por muitos anos e chegou nesta situação de insolvência. Enquanto isto, todo o Estado perde”, afirma. Com informações privilegiadas de fontes de grande representatividade em Goiás, o repórter revela. “Um líder do Fórum Empresarial Goiano me disse que um dos entraves hoje para atrair empresas para Goiás é a falta de garantia de energia”.

De fato, não é preciso ter contato com grandes empresários ou ter acesso a informações confidenciais para saber que a energia elétrica é um dos problemas mais sérios enfrentados pela população em Goiás. A recorrente falta de energia somente reafirma a fragilidade do sistema: basta uma ameaça de chuva para que em diversos pontos do Estado falte energia. Em Anápolis, a situação é recorrente há vários anos.

“O governo quer se cacifar com a Celg/Eletrobrás. Ao PSDB não interessa isto, e o PMDB agora faz beicinho. Pergunta: e nós com isto?”, indaga o jornalista Jarbas Rodrigues. A pergunta, dele e do povo goiano, até o momento, segue sem resposta.

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